sábado, 6 de junho de 2009

Um exemplo de diálogo - Parte 2

Na primeira parte deste post apresentamos um diálogo publicado na primeira edição do Livro dos Espíritos entre Kardec e o espírito Théophile Z.. Nesta segunda parte iremos fazer uma análise deste diálogo e dos seus dialogadores.

Análise geral do diálogo
O objetivo desta análise geral é o de compreender o processo básico de comunicação com os espíritos. E o primeiro passo seria identificar o espírito comunicante. Este era um contemporâneo de Kardec, falecido a pouco tempo, e tinha uma certa instrução. Aparentemente este espírito Théophile Z. não seria uma pessoa famosa pois não encontramos referências suas na Internet. Também não há outras mensagens assinadas por ele nas obras de Kardec.

Quanto às circunstâncias que envolvem o diálogo podemos dizer primeiramente que ele ocorre no início do trabalho de Kardec ainda antes de 1857 já que a primeira edição do Livro já estava no prelo no início deste ano. Nesta época Kardec frequentava poucas reuniões mediúnicas especialmente na casa do senhor Baudin (médiuns Caroline e Julie Baudin) e na casa do senhor Roustan (médium Ruth Japhet).

Em geral estas médiuns psicografavam através de uma cesta ou de um prancheta. Mas Ruth Japhet também usava a psicofonia e aparentemente este diálogo foi obtido através desta mediunidade uma vez que existem interjeições próprias da fala como "Espera!" (item 23) e "Escuta!" (item 24).

Outra importante circunstância que envolve este diálogo é a apresentação do espírito mediante a evocação feita pelo entrevistador. Isto era comum no trabalho de Kardec.

O diálogo pode ser dividido em quatro partes: uma conversa inicial (de 1 a 4), uma especulação sobre a situação do espírito (de 5 a 17), uma entrevista mais específica (de 18 a 26), e ao final um comentário de Kardec (item 27).

Na conversa inicial é feita uma evocação (1), o espírito fornece suas primeiras impressões da vida após o desencarne (2), e faz uma revisão de conceitos que tinha na Terra (2, 3, 4).

Na especulação sobre a situação do espírito Kardec consegue obter informações interessantes sobre a sua localização (5), sua atividade (6, 7, 8), seu estado evolutivo (9), sua reencarnação e existências passadas (10, 11, 12, 13), sua aparência (14, 15, 16), e sua impressão sobre a comunicação (17).

Na terceira parte Kardec faz uma entrevista mais específica sobre o livre arbítrio (18, 19), o bem e o mal (20), a fatalidade (21, 22, 23, 24, 25), e o conhecimento sobre o futuro (26). E na última parte Kardec faz um comentário final resumindo alguns pontos discutidos na terceira parte.

Análise do papel do entrevistador
Muito provavelmente o condutor da entrevista ao espírito neste diálogo era Kardec. As perguntas formuladas são simples e claras. Algumas delas são mais subjetivas, relacionadas ao espírito, como as de 2, 3, 4, 9, e 17. E outras são mais objetivas como as da terceira parte do diálogo (de 18 a 26). Há também perguntas mais críticas e que exigem um pouco mais do espírito como a 23 e a 25.

O papel do entrevistador se caracteriza pelo encadeamento lógico das perguntas. E isto demonstra que se tratava de um verdadeiro diálogo. Não há quebras na linha de raciocínio. Há uma persistência nas perguntas para ver se resolve todos os problemas. Kardec faz as perguntas certas logo após uma resposta incompleta. Por exemplo, veja o par 5 e 6, o 9 e 10, a trinca 11, 12 e 13, e o par 22 e 23.

Análise das respostas do espírito
O objetivo desta análise das respostas é o de reconhecer o valor das idéias apresentadas. Quanto à linguagem empregada pelo espírito podemos avaliá-la como clara em várias respostas como as de 11 e 25. Também percebemos algumas respostas mais genéricas ou pouco explicativas (5 e 13, por exemplo). E, algumas vezes as respostas se tornam um pouco confusas (18 e 24).

Quanto à coerência das respostas, em geral, o espírito demonstra ser bastante coerente especialmente em relação aos conceitos de planejamento reencarnatório e de livre arbítrio. Isto é, o espírito se mostrou coerente ainda que o interrogador tenha feito uma entrevista bem inteligente "apertando" o espírito através de perguntas bem formuladas que buscavam as brechas deixadas por ele.

Mas, uma exceção ocorre quando o espírito coloca que existem fatos que devam ocorrer forçosamente e em outro momento relativiza esta afirmação indicando que há possibilidade de reverter a fatalidade desde que com a permissão de Deus (24).

Em relação aos aspectos emocionais o espírito se apresenta sereno na maior parte do diálogo (por exemplo: 22 e 26). Há, porém, uma certa ansiedade para responder as perguntas relacionadas aos ensinamentos sobre a fatalidade especialmente observada nos itens 23 e 24 quando o espírito recorre as interjeições 'espera!' e 'escuta!'.

Na terceira e última parte deste exemplo de diálogo apresentaremos o que foi aproveitado dele para a nova edição do Livro dos Espíritos e, claro, avaliando também a forma como ele foi aproveitado. Até lá!

Nenhum comentário: