sábado, 29 de novembro de 2008

Repouso físico e moral

Algumas vezes as palavras podem aprisionar as idéias quando são colocadas de forma delimitada explorando um único entendimento. Na sua nova edição, Kardec procurou romper estes limites abraçando um conjunto maior de idéias e experiências observadas no intervalo de amadurecimento entre as duas edições.

Possivelmente ao ter contato com espíritos sofredores Kardec se deu conta de que as sensações destes espíritos se assemelham àquelas dos espíritos encarnados. Foi assim que ele ampliou o conceito de fadiga e repouso ao dividir o diálogo 73 da primeira edição nos dois diálogos 253 e 254 da segunda edição. Vejam:

Primeira edição
73. Os espíritos experimentam as nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos, a fadiga e a necessidade de repouso?
"Não; são espíritos; isto quer dizer que eles os conhecem, visto que os suportaram, mas não sentem materialmente como vós."
Em razão de sua essência espiritual, os espíritos não podem ficar sujeitos a influências que só dominam o corpo. Não sentem nossas precisões, nossos sofrimentos físicos, nem fadiga, nem necessidade de repouso, mas têm idéia exata de tudo isso.

Segunda edição
253. Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos?
"Eles os conhecem, visto que os suportaram, mas não sentem materialmente como vós, porque são Espíritos."
254. Os Espíritos experimentam a fadiga e a necessidade de repouso?
"Não podem sentir a fadiga, como a entendeis; conseguintemente, não precisam de descanso corporal, como vós, pois que não possuem órgãos cujas forças devam ser reparadas. O Espírito, entretanto, repousa, no sentido de não estar em constante atividade. Ele não atua materialmente. Sua ação é toda intelectual e inteiramente moral o seu repouso. Quer isto dizer que momentos há em que o seu pensamento deixa de ser tão ativo quanto de ordinário e não se fixa em qualquer objeto determinado. É um verdadeiro repouso, mas de nenhum modo comparável ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos são suscetíveis de sentir guarda relação com a inferioridade deles. Quanto mais elevados sejam, tanto menos precisarão de repousar."

Na nova edição, Kardec e os espíritos desenvolvem a idéia da fadiga intelectual e do repouso moral. Assim, eles ampliam o entedimento dos conceitos até então restritos apenas sob o ponto de vista material. Algo análogo pode ser observado também na ampliação do conceito de sexualidade.

Além da reformulação deste mapeamento também encontramos uma minuciosa revisão do diálogo 155 da primeira edição reproduzido no tópico Realidade dos sonhos. Neste Kardec removeu uma parte da resposta em que afirmava que "certamente o espírito não repousa nunca".

É interessante destacar ainda a divisão de uma pergunta em duas que mais uma vez demonstra a necessidade e a liberdade de reelaborar os textos com o objetivo de abranger o conhecimento e oferecer uma doutrina cada vez mais aberta e consistente.

2 comentários:

Leopoldo Daré disse...

Oi Vital

tenho dois comentários:
1) Sobre a resposta a pergunta O que é Deus?: é muito interessante e ficamos ser uma hipótese clara porque Kardec fez deste jeito, porém deixarei registrado no blog minha opinião sobre os "enunciados". Na primeira parte da primeira edição, Kardec dividi em duas colunas e chama a coluna da direita de "enunciado", para uma leitura corrente. Para mim, isto sugere que no começo do livro Kardec se preocupou em apresentar os diálogos muito mais próximo de como foram extraídos da mediunidade, e a coluna da direita é uma apresentação linear para aprendizado dos conceitos que emergem dos diálogos, ou seja, são os enunciados e não os comentários de Kardec (apesar dele acrescentar alguns conteúdos em alguns casos). Diferentetemente, na segunda e terceiras partes da primeira edição, Kardec já assume o formato da segunda edição, e os textos entre os diálogos deve ser considerado mais como um comentário. É interessante que muitos dos enunciados, passam a compor ou as respostas ou os comentários. Mas Kardec, na primeira edição, os apresenta como enunciados e não como comentários.

2) Sobre a fadiga e o sexo, vejo um ponto importante para nosso caderno de notas gerais do Decodificando. Para mim, estes dois pontos que você levantou podemos agrupar dentro do corpo da prova de um desenvolvimento filosófico da segunda edição relacionado ao "relativismo e gradualidade", que seria um desenvolvimento particular destes: o desenvolvimento conceitual do "subjetivismo sensitivo" ou talvez seria mais correto dizer, "sensibilidade espiritual". Vou pensar qual o melhor termo.

Vital Cruvinel disse...

Oi Leo,

Você tem razão no primeiro ponto em lembrar que a coluna da direita é mais um enunciado do que um comentário.

E também concordo com você no ponto 2. Vai ser muito importante trabalhar com esta avaliação.

Abraço, Vital.